2010 sem esforço

05/01/10 – terça-feira

            Parece que um imperador chinês da dinastia Han, apreciador de frutos do mar, teria pedido ao maior artista de seu tempo que lhe pintasse a figura de um caranguejo. O artista pediu o prazo de seis meses para apresentar a obra, bem como o necessário provento, e o imperador concedeu-lhe.

            Ao longo desse ano, porém, observou-se que o pintor fez de tudo menos pintar: folgou em retiros do Himalaia, peregrinou no deserto de Gobi, cruzou a grande muralha e até pescou no lago Baikal.

            Chamado à corte, o grande artista solicitou mais seis meses para terminar seu trabalho, assim como o indispensável provento. O imperador, ciente da ínfima importância do custo diante da longanimidade da arte, concedeu-lhe.

            No fim do prazo, contudo, foi preciso mandar arrancar o pintor de sua vida mansa nas ilhas Nanchan, sem que nesse período houvesse tocado em tinta um dia sequer. Sentado ao tapete diante do imperador, com um machado suspenso sobre sua cabeça, o artista foi intimado a pintar o caranguejo.

            Depois de tomar seu chá, o artista pegou do nanquim e, em cinco minutos, traçou a obra-prima imortal, com a naturalidade de quem desenhava a mais fácil das figuras.

            “Você podia ter-me feito esta obra em cinco minutos e passou esse tempo todo me enrolando?”, perguntou-lhe o imperador.

            “Não: eu passei um ano de minha vida meditando nesse caranguejo”, respondeu-lhe aquele que era o maior dos artistas do império.

            Esta foi uma das anedotas que RES contou àqueles que estavam presentes à sua breve palestra de elucidação do controvertido lema 2010 sem esforço, recebido ontem (cf. O corpo é quente como sangue) com certa perplexidade.

            Outra foi a do capitão cipriota que, tendo o motor do seu navio cargueiro entrado subitamente em pane no meio do Mar Negro, sem que ninguém a bordo fosse capaz de consertá-lo, mandou urgentemente um escaler à Criméia a fim de encontrar um engenheiro naval que pudesse fazê-lo. Vieram um russo e um ucraniano, mas nenhum dos dois pôde identificar a raiz do problema: o motor simplesmente não funcionava, apesar de tudo estar aparentemente em ordem na sala de máquinas.   

            Mandou então o capitão outro escaler a leste. Vieram um engenheiro de máquinas búlgaro, um romeno e um moldavo, mas nenhum atinou com a solução. Até a um renomado engenheiro turco, o melhor de Istambul, recorreu o capitão. O resultado, porém, foi o mesmo.

            Na viagem a Istambul, todavia, os marujos ficaram sabendo de um mecânico armênio cuja perícia era proverbial em todo o Cáucaso. A carga do navio já começava a estragar, e o capitão mandou que fossem logo buscar esse sábio nas montanhas para além da Geórgia.

            Os marujos, contudo, voltaram da Armênia com a notícia de que o mecânico não deixava seu chalé nas cercanias de Ierevan por menos de vinte milhões de drans, o equivalente a 22 mil libras cipriotas (US$ 53.000,00).

            “NEM A PAU!”, esbravejou o capitão. A carga de bilhões de drans, contudo, começou a feder, e o prejuízo-monstro tirou a noite de sono do capitão.

            “Me tragam esse armênio!”, gritou o capitão de sua cabina no meio da noite.

            No dia seguinte, subiu a bordo o dito mecânico, homem de avançada idade e aparência simplória, um tanto desleixado no vestir, portando uma maletinha de couro velha e esfarrapada. Solicitou ao capitão que o levasse a determinado ponto do navio, certa câmara adjacente à sala de máquinas. Ali, abriu uma portinhola de ferro na parede, olhou, retirou da sua maletinha de couro um martelo e desferiu, uma única vez, uma pancada a meia força. O motor voltou imediatamente a funcionar.

            “E você me cobra 20 mil libras por uma marteladinha!?!”, sobressaltou o capitão.

            “Vinte e duas, porque eu sei exatamente onde dá-la”.

            Eis algumas das anedotas contadas por RES em torno do mote 2010 sem esforço.         

2 Respostas to “2010 sem esforço”


  1. 1 macadden 08/01/2010 às 0:30

    sinto que a cabana tem um pouco dessas duas anedotas,no caso do pintor do crustaceo escarlate lembra o tempo que esses promissores ou fanfarreiros artistas estão no local,sera que quando o machado estiver mirado aos seus magros pescocinhos(falando nisso um abraço ao cinho)eles vão desempenhar ou ser decapitados pela impotencia de criação,e no caso do navio,sera que este grupo de artistas que não sei como foram escolhidos se por competencia ou por panelismo,não são pseudos resolvedores do problema da cabana,e até agora não resolveram o problema no motor principal que no caso da cabana é qualquer criação artistica de qualidade e não essa especulção filosofica que tem me transparecido até então,bom qualquer coisa sou aquele homem de idade avançada e aparencia simploria pronto a dar a martelada simples no local certo,é só chamar


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