Alameda Park: a exposição que não houve

12/01/10 – terça-feira

            O plano de expansão extemporânea (ocupação do entorno da FUNARTE) prevê diversas iniciativas de intervenção nos arredores do QG do movimento. Bruno Pastore anda grafitando os muros dos Campos Elísios, Jan Nehring aplica o stencil com o logotipo da cabana por onde passa e o grupo de pintores – liderado por André Albuquerque – começa a armar as primeiras exposições coletivas em estabelecimentos comerciais da região.

            Pois bem. Um dos estabelecimentos que permitiu a instalação de uma exposição de pintura foi o hotel Alameda Park, na própria Alameda Nothmann, de onde tirou o nome. Não se trata de um hotel requintado, tampouco chega a ser qualquer espelunca. Uma atípica  bandeira da Romênia figura entre as de praxe pendentes sobre a entrada. Subindo a escada do hall da recepção, chega-se ao mezanino onde se serve o café da manhã, uma sala com mesas recobertas de toalhas plásticas pintadas com figuras de frutas e vasos de flores artificiais. A luz do dia perpassa melancolicamente as cortinas brancas e rebate preguiçosa nas faixas paralelas de cor azul-bebê que dividem horizontalmente as paredes do recinto, criando uma espécie de estufa de continuidade do sonho matinal em que se esvai qualquer necessidade de voltar algum dia ao mundo lá fora. Os intervalos do tic-tac de um simplório relógio de parede suspendem o ambiente num delicado equilíbrio entre empuxo de permanência e delírio atemporal.

            Neste típico set de David Linch, foram instaladas, ontem, pinturas de André Albuquerque, Silvia Mharques, Bhagavan David, Jan Nehring e Bruno Shintate.

          Hoje, Bhagavan levou Bruno Pastore para conhecer a exposição que, assim como a do bar do Luisão, tinha sua vernissage programada para esta quinta-feira, dia 14. Para a surpresa de ambos, porém, não havia mais nenhuma das pinturas na parede.

          Isto pelo simples motivo de que o dono do Alameda, ao vê-las, arrependeu-se do trato de manter a exposição. Queixou-se de que esperava “paisagens naturais” ou, no máximo, “naturezas mortas”. Alegou receio de que outro tipo de pintura causasse estranhamento nos clientes. Provavelmente tenha razão.

          Conclusão: o dono do Alameda Park é um comerciante, não é um mecenas. Se o fosse, perceberia que a atemporalidade “natural” do seu café da manhã tem relações profundas com a extemporaneidade das obras. Se é que não foi justamente esta estreita relação (revelação) que, inconscientemente, incomodou seu senso estético.    

 

4 Respostas to “Alameda Park: a exposição que não houve”


  1. 1 Ana 13/01/2010 às 11:41

    A expans~ao contempor^anea pode levar a cabana pra rua, mas tamb’em poderia trazer a rua pra cabana…

  2. 3 cleonice 13/01/2010 às 22:14

    BOA NOITE AMIGOS DA CABANA!!SOU A CLEO,ESTOU SEMPRE PERTINHO DE VCS.HOJE TIVE O PRAZER DE,CONHECER UM POUQUINHO DE CADA UM.FUI CONVIDADA Á UM CAFE DA TARDE,COM MEUS AMIGOS DE TRABALHO.SÓ QUERO AGRADECER TODOS PELO CARINHO E DEDICAÇAÕ COM O GRUPO SERVNAC..BJSS CLEO


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