18/01/10 – segunda-feira
Bhagavan chegou à cabana com quatro lâminas de ferro de grande superfície, formando dois pares de iguais proporções geométricas: duas chapas gêmeas praticamente quadriláteras (1,5m X 1,3m) e duas chapas gêmeas retangulares como faixas (1,9m X 0,6m). Dada a pouquíssima espessura (1mm), as quatro lâminas são bastante maleáveis, e chegaram algo amassadas do transporte do ferro-velho à cabana; a primeira ação de Bhagavan foi pisar as placas de metal para desamassá-las.
Em seguida, compactou-as na parede da seguinte forma: as chapas quadriláteras “gordas” (de maior área) unidas lado a lado como um corpo de base, sobre o qual se unem as chapas gêmeas retangulares deitadas horizontalmente formando uma única faixa, de modo que o corpo assim montado se assemelha, grosseiramente, a um T atarracado, horizontalizado, de tronco robusto e hastes laterais curtas, cuja área total perfaz mais de 6m2.
A superfície laminada das chapas de ferro possui uma cor fosca cinza-chumbo, que adquire um prateado reluzente conforme a incidência de luz. Entretanto, a ação do tempo e do acaso provocou alterações formidáveis no metal: corrosão química, abrasão, ferrugem e fundição fizeram florescer texturas ásperas em tonalidades de preto carvão e marrom ferrugem sobre o fundo prateado. Tudo cores da mesma e única matéria transformada, o ferro, cujas lâminas compactadas oferecem um panorama sincrônico de sucessivas e imprevisíveis variações.
O resultado é um robusto, árido, abrasivo quadro de metal, que valoriza no ferro aquilo que há de terra e de fogo, lembrando que, segunda a física dos antigos, a terra é a conjunção do seco e do frio, enquanto o fogo é a conjunção do seco e do quente. A aridez torna ainda mais implacável aquilo que a robustez morfológica e a opacidade da cor, por si só, já tornavam imponente.
Se não bastasse, a disposição geométrica das placas é perfeitamente simétrica, sem possibilidade de maior compactação ou arranjo melhor, como se o objeto em sua forma atual não pudesse ser despedaçado ou destruído – senão pela corrosão. E ainda que indivisível, o quadro é, ao mesmo tempo, articulado. Como se viu, a espessura fina das lâminas permite uma alta maleabilidade ao ferro, de modo que as quatro placas são dobráveis. O quadro então se torna subitamente uma escultura, o dorso monumental de uma figura humana imbatível pela força bruta, mas passível de sucumbir ao tempo.
Um detrator da obra poderia acusar a leviandade de Bhagavan, cujo único esforço foi procurar, escolher e comprar quatro chapas metálicas num ferro-velho e montá-las dentro da cabana extemporânea. “Eu demorei 26 anos para ter esse olhar”, respondeu prontamente o autor a este escrivão. Nisto, não faz senão aplicar, à perfeição, o controvertido lema 2010 sem esforço de Rubens Espírito Santo. Recomendo a leitura da postagem homônima feita neste diário dia 05/01/10, para que se entenda a verdadeira genialidade que subjaz a um ready-made legítimo.
olha,se eu tirar uma foto do meu saco, e pedir para esse relator maluco que esta ai escrever sobre ele,quem nunca viu o artefato banhado a pele laciada vai achar que é uma obra de arte,o cara é demais,tem muita qualidade na sua narrativa,parabens e desculpe-me se poderia citar outra coisa que não o meu saco,não me veio nada mais feio e mais sem graça na mente,continue assim
MACADDEN, MANDA ESSA FOTO DO TEU SACO PARA MIM, QUE EU ESCREVO SOBRE ELE! PALAVRA!