O bom-humor do chefe

11/01/10 – segunda-feira

          Em qualquer ambiente de trabalho, uma das muitas artes necessárias à sobrevivência do subalterno é a de pressentir o humor do chefe: se bom, apresentam-se-lhe as demandas; se mau, não se lhas apresentam – eis aí uma regra simples a ser observada especialmente no período matutino.

          Pois Rubens Espírito Santo retornou à FUNARTE de bom-humor. Logo, foram-lhe apresentadas as calcinhas de Paula Barsotti dependuradas ao lado de seu retrato circunspecto. Bem-humorado, RES aprovou sem qualquer reserva a iniciativa de Paula, considerando positivo o envolvimento das calcinhas da Valfrance na produção da cabana,  ação prática de imbricamento entre vida e arte, aproximando a vida profissional particular da vivência artística pública. Sem falar que já há visitantes mulheres interessadas em comprar as calcinhas de Barsotti, muito bonitas por sinal.

          Entretanto, como as calcinhas estivessem um tanto xoxinhas assim dependuradas cada uma em um prego, RES meteu-lhas a mão: rapidamente estirou-as umas sobre as outras e  recheou-as com espuma. Este ato simples, que valorizou extraordinariamente a potência estética das calcinhas, poderia ser tomado como mera banalidade, mas o fato de ter vindo da parte do chefe indica que merece atenção. Afinal, um artista plástico traquejado como Rubens Espírito Santo não teria gasto seu tempo com isto – ainda que menos de um minuto –  se não valesse a pena. Afinal, RES tem, nitidamente, economizado seus gestos na cabana, em coerência com aquela “provisão do espírito” que professa (cf. Para os que retornam).  

          Assim, a fulminante ação prática de RES (tomada logo de cara em sua chegada), que repentinamente transformou aquelas calcinhas numa obra admirável, foi acompanhada com interesse por todos os presentes,  adquirindo um valor simbólico-pedagógico: RES realizava, na prática, alguns dos conceitos de sua poética: espírito em prontidão, atenção ao real, olhar aguçado, salto de predador felino sobre o objeto em foco.

          Num gesto rápido, um aprendizado intenso: esta aula-minuto de RES apelou à mais instintiva das pedagogias – o exemplo vivo, gerador do desejo de imitação presente em qualquer filhote de leão, quanto mais no homem. Daí a vantagem de uma experiência como a da cabana extemporânea, que proporciona a convivência de poéticas variadas,  conjugando saber prático e teórico.

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