Sobre a entrada da FUNARTE II

 07/01/10 – quinta-feira

          Com o retorno do grafiteiro Bruno Pastore à cabana, foi feita uma primeira tentativa de maior domínio plástico da FUNARTE.

           RES encarregou Pastore de ampliar e sobrecarregar as figuras que este desenhou durante o recesso (pulando o muro?) nas paredes do corredor de entrada da instituição. Estes desenhos, basicamente, são figuras tridimensionais cinzas de ângulos retos, como construções de cimento herméticas, espécies de casas-cofre.

          Pastore ampliou uma das casas-cofre enormemente, de modo que um pedaço da base continuou pelo chão. RES subiu as arestas da casa-cofre adjacente até o telhado, englobando parte de uma janela. Um arremate uniu as duas casas num ponto único de volume real, na extremidade de uma canaleta da rede elétrica.

          O resultado foi um trambolho que, se não é dos mais belos, pelo menos serviu aos propósitos pedagógicos de RES enquanto mestre de arte plástica: abolir a timidez criativa do discípulo, fazê-lo dominar o espaço em interação com o real, aumentar sua potência estética.

          Claro que a prestigiada atriz Esther Góis, curadora da FUNARTE/SP, terá o direito de não compreender a beleza pedagógica contida no trambolho pintado nas paredes da instituição de sua responsabilidade, e naturalmente expressar algum desgosto. Este desconforto, contudo, certamente desvanecerá com a recordação de que a ocupação da FUNARTE é uma obra em processo, sujeita a mutação permanente, conforme as diversas experimentações estéticas realizadas: hoje a coisa é assim, amanhã pode ser de um jeito completamente diferente (o que, a bem da verdade, não deixa de ser motivo de inquietação para um curador de galeria).

          De qualquer modo, o dia de hoje é o primeiro, no âmbito externo à galeria Mario Schemberg, de realização do programa de “maior domínio plástico da cabana” enunciado por RES na reunião de segunda-feira (cf. O corpo é quente como o sangue) como ponto imprescindível desta segunda fase de ocupação. O fato é que, para frente ou para trás (dependendo do observador), a coisa andou.

EM TEMPO: no final da noite, as luzes da galeria Mario Schemberg, manuseadas com esmero por Schlosinski, focaram sobre Silvia Mharques sentada de camisola olhando para uma tela em branco na parede à sua frente. Silvia virou-se de costas para a tela, pegou uma rabeca do chão e começou a tocá-la; na ponta do arco, todavia, estava amarrado um tubo aberto de tinta vermelho, de modo que, à medida que Silvia manuseava o arco sobre as cordas da rabeca, desferia golpes de tinta na tela às suas costas. Surgiu então um conjunto estético conciso, simultaneamente sonoro e pictórico, uma escultura viva profundamente comovente, não tanto pelo som (num único e insistente tom) ou pela pintura em si (também num único tom), mas pela extrema feminilidade transmitida pelo ato, em que uma mulher de roupa íntima branca borrava de sangue cada toque com que insistia vibrar sua lira.

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