A VOZ DA CRÍTICA

 26/01/10 – terça-feira

          A insinuação, neste diário, de que Rubens Espírito Santo não passa de um mero repetidor do discurso de vanguardistas do início do século passado como Tristan Tzara ou, no máximo, de um ramificador do pensamento dadaísta, além de ter desagradado obviamente ao próprio RES (cf. A Reação de RES), pode ter suscitado alguma inquietação por parte de seus discípulos.

          Como a querela foi gerada a partir de um esboço de ensaio crítico feito pelo próprio escrivão da ocupação (cf. Dadaísmo extemporâneo?), este julga conveniente oferecer ao leitor do diário um “terceiro olhar” sobre a obra de Rubens que, oportunamente, acaba de ser verbalizado – de modo brilhante – num artigo intitulado Casa Escancarada, publicado na revista Brasileiros (ed. n°30/janeiro de 2010) de autoria de Luiz Chagas, ex-guitarrista da lendária banda Isca de Polícia.

          O excelente artigo de Chagas segue reproduzido na íntegra:

           “Até 20 de fevereiro de 2010, a galeria Mario Schenberg, do Complexo Cultural Funarte São Paulo, abriga a Cabana Extemporânea do Atelier do Centro. Pelo menos seis de seus 28 componentes se mudaram de mala e cuia ou, melhor dizendo, de mochila, Imac e celular, para o local. A Cabana Extemporânea faz parte da exposição Entorno de – Nos Limites da Arte – 2ª Edição que inclui Da Terra ao Povo, mostra do grupo Mestres da Obra (Galeria Flávio de Carvalho), e a intervenção Café Vacance de Laura Huzak andreato (Centro de Convivência Waly Salomão). Flávio de Carvalho? Mário Schenberg? Waly Salomão? A Funarte é outra.

          Rubens Espírito Santo é o coordenador geral da Cabana Extemporânea. Quem entra na sala-galeria defronta-se com fogão, geladeira, cafezinho sendo feito, gente dormindo, músicos de fone diante de luzinhas. Mas não se trata de um caos hippie retrô, Living-Theatre-Novos Baianos. Mesmo porque Espírito Santo atribui o nome da obra ao fato de “não ser contemporânea”. Talvez nem produza um objeto acabado. No dia 20 de fevereiro, eles simplesmente arrumarão suas coisas e irão embora. Rubens é um artista-professor-pensador cercado por alunos-discípulos-inventores. O importante para ele é amarrar a produção a um discurso intelectual. Tem sua lógica. Rubens, 43 anos, fazia gravura em metal. Evoluiu para a pintura a óleo, que ganhou tridimensionalidade com a aquisição de objetos. Começou juntando o que encontrava na rua até partir para a arqueologia pessoal, agregando elementos de sua infância. Começou com eixos de carrinho de rolimã, que lhe abriram as portas de grandes galerias, até chegar ao conceito “cabana”, quem sabe inspirado na cabana do Josias, um andarilho adotado pelo pai de Rubens, em São José dos Campos (SP). Da Cabana do Josias, que tinha função estética, pictórica, nada de favela como a original, chegou à Cabana Stalker – em uma referência ao filme de Andrei Tarkovsky, de 1980, em que guias (stalkers, ou melhor, Rubens) levam pessoas em direção a uma zona atípica, perigosa. Esta teve de ser habitada a exemplo da Cabana Extemporânea. “A partir de sua ocupação, deixou de ser um barraco para se tornar um lugar sagrado, espaço de convivência para questões fundamentais”, explica. O pensador surgiu de sua (des-in)formação. Filho de vigilante noturno e mãe feirante, Rubens não tinha livros em casa, mas nutria um ‘desespero por conhecimento’. Após a oitava série, tornou-se autodidata atípico, já que tinha professores. Ao filósofo alemão Christophe Kotanyi, radioastrônomo que apareceu no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), vizinho da sua casa em São José e que lhe ensinou estética, juntaram-se Helena Calil, ex-aluna de Jean-Paul Sartre, inseminando-o de filosofia existencialista, e Sonia Leal, semiótica. Para completar, 15 anos de análise lacaniana.

          Como professor, é um cara convidado pelo governo federal para fazer uma obra que consiste em reunir um monte de gente morando ali dentro e vivendo suas guerras interiores. Não mais arte contemporânea, mas extemporânea. Uma arapuca que captura o instante em que as pessoas estão antes de fazer algo. Rubens não espera, pelo menos não induz, que se produza algo ali dentro. Quer que saiam homens, seres humanos melhores. Que produzam algo dentro de si mesmos. É bem ambicioso. Vendo essa moçada não sei por que me lembrei de uma música de Maria Bethânia, uma das raras parcerias com irmão Caetano Veloso, Trampolim. A letra diz: ‘No ar, antes de mergulhar, antes de mergulhar’. Do disco Drama. 1972.”

Em tempo: o subtítulo do artigo de Luiz Chagas é “Um grupo de jovens vai morar na Funarte, em São Paulo, durante três meses fazendo arte. Ou resolvendo a vida.

 

3 Respostas to “A VOZ DA CRÍTICA”


  1. 2 Paulo 27/01/2010 às 23:37

    Oi boa noite,bem legal o projeto. Legal ver a iniciativa de tentar fazer algo mais atuante,questionador e não comercial.
    (apesar de algumas coisas ao que me parece ficar apenas na teoria)
    Tenho uma sugestão; no texto critico diz: ” Quer que saiam homens, seres humanos melhores” .

    Então queria propor o tema da alimentação vegetaria entre os participantes.Por que vocês falam bastante de conceitos, grandes pensadores(Europeus;é uma pena que se limite a isso)..etc,..porém coisas que fizam no campo da especulação,e teoria como eu disse…não sei se isso vai fazer de vocês pessoas melhores de fato.Porque pelo que vi vocês vão ao bar,bebem cerveja..fumam cigarro,seguem padrões europeus,etc.

    Não vejo algo de tão relevante nisso tudo,…penso em bastante coisas que poderiam praticar de mais elevado…porem já que sitei o trecho do texto onde diz: Seres Humanos…ser humano significa ser sencivel,então se saissem dai vegetarianos pelo menos já seria um grande passo,algo efetivo; Uma decisão corajosa…Sair do campo do desfrute do paladar..sendo animais estão morrendo…sendo que o alimento que usa para alimentar animais poderia acabar com a fome no mundo.E que vocês ai da cabana saiam do campo do egoismo..intelectualismo po intelectualismo…etc.Pra por em pratica em instituições como faap. por exemplo. Ou para dar entrevista e ficar com o ego inflado. Isso é pessimo para o avanso real, que éo avanço espiritual.
    é isso.
    Desculpe a simplicidade de palavras,porém a intensão é boa.

    luz no caminho de todos…legal que estão buscando ser pessoas melhores

  2. 3 macadden 28/01/2010 às 0:19

    isca de policia pra mim é bandido,e lugar de bandido é na cadeia ou se possivel morto,outra coisa convidado pelo governo federal, ficou mais suspeito ainda,rubens tua batata ta assando,da pra ser frita ou pure,que tu acha de mudar para o ramo da culinaria….MOTIIIMMMMM


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