O caso Adolfo Gordo

21/01/10 – quinta-feira

          No dia de ontem, além da habitual aula de quarta de RES, Jan Nehring e Rafael Pajé Aboud realizaram uma iniciativa que intentavam há alguns dias: intervir numa certa parede rústica (fundos de um antigo armazém), situada à rua Adolfo Gordo, nos arredores da FUNARTE/SP.

          Para isso contaram com a ajuda de Bhagavan David e uma visitante assídua da ocupação, de nome Renata Alcoba, acompanhando-os também este relator, o qual aproveitou o ensejo de presenciar o processo de intervenção pública para divulgar a mostra NO ENTORNO DE / NOS LIMITES DA ARTE por meio de panfletagem. Até ao segurança do grande prédio residencial em frente ao paredão foram dados panfletos da mostra, sob a justificativa de que a intervenção naquele local era um modo de despertar o interesse da vizinhança para visitar a FUNARTE, que não anda lá com muito público.

          Da intervenção resultou, afinal, uma parede alterada de modo comedido, com elementos conexos à sua estética própria (e facilmente removíveis), destacando-se uma prancha de passar roupa inserida verticalmente num polígono de madeira e uma bandeja encaixada num vão sobre a qual foram deixados, convidativamente, panfletos da mostra. Do jeito que a coisa ficou, a idéia original de Jan Nehring – fazer em breve uma vernissage na calçada da Adolfo Gordo – era totalmente cabível.

          Mas Nehring não resistiu à tentação de apresentar, hoje, seu projeto para um certo sujeito da cabana. Levou esse cabaneiro à Adolfo Gordo para avaliar a intervenção na parede da calçada em que planejava realizar sua vernissage.

          Ora, em cinco minutos esse cabaneiro, tomado de um espírito de porco, já tinha destruído tudo; os elementos “estéticos” dispersos ontem pela parede foram arrancados, pichados de spray colorido e transformados num amontoado de entulho jogado num canto. A “galeria ao ar livre” de Nehring virou um “lixão da arte”.  

           Mas o sujeito não tinha esgotado sua vontade de barbarizar: pichou com spray os dizeres “MARTIN HEIDEGGER”, “HÖLDERLIN” e “CLARICE LISPECTOR” em letras garrafais, e, para piorar, traçou uma linha que avançou da parede do armazém para uma residência particular.

           Logo após Nehring e o sujeito deixarem a “instalação”, uma viatura da polícia chegou ao local.

           O caso foi repassado para a guarda civil, que chegou na FUNARTE/SP perguntando pelo responsável pela instituição. Depois de deixarem o prédio da administração, os guardas entrevistaram alguns membros da ocupação, embora o cabaneiro diretamente envolvido no caso não estivesse mais presente. Para sorte dos que estavam, a diligência não resultou em medidas efetivas.

           O mais interessante de tudo veio depois: Piero Chiaretti – o visitante que já dormiu e acordou mais vezes dentro da Mario Schenberg do que muito cabaneiro oficialmente registrado – e Luisa Doria foram ao local dos fatos e, encontrando um certo  resíduo marrom esparramado no chão, fizeram “a intervenção da intervenção da intervenção”, encerrando a estória com uma verdadeira “chave-de-ouro”.  Eis que Piero Chiaretti e Luisa Doria, para o bem ou para o mal, tiveram sua obra incorporada à cabana. Quem quiser vê-la, favor conferir OBRAS.   

 

                                                                                       

4 Respostas to “O caso Adolfo Gordo”


  1. 1 macadden 24/01/2010 às 0:52

    quem gosta de clarice lispector é viado,e cada um tem o direito de fazer o que quizer com o proprio rabo,o meu eu só uso pra cagar,quanto ao volverini e o martini bianco tudo bem,esse plaiboy ae que apavorou provavelmente fez seu curso d malandragem no shopping gastando o dinheiro do papai

  2. 2 Piero Chiaretti 25/01/2010 às 18:24

    A obra foi realizada por mim e pela Luisa Doria, nao Renata Alcoba. Favor corrigir quando tiver tempo, Falachones.

    PS: “…e cada um tem o direito de fazer o que quizer com o proprio rabo,o meu eu só uso pra cagar…”

    E como!

  3. 3 diariodacabana 26/01/2010 às 11:28

    O erro já foi corrigido. Obrigado, Chiaretti.

  4. 4 BOCÂINA 04/02/2010 às 18:46

    É…
    Ação basicamente irrelevante tanto a 1° quanto a 2°
    Tá bem próxima de uma ação recreativa, um passeio pra fazê alguma coisa, nada pensado, foi ingênuo, não houve nem brecha pra discussão empolgante. Porque afinal se discutiria esta ação?
    Todo movimento foi meio no grau do “lá nois se ajusta…lá nois vê o que acontece” ninguém sabia o que era para ser feito mesmo, irônico é ver a maioria, quer dizer todo mundo que participou da ação LIMPANDO A BUNDA COM SEUS PROPRIOS PAPEIS BEM DEFINIDOS.
    Mas no fim das contas, a espetacularidade toma conta de tudo, lá vai a rapaziada criar com os elementos que estão a sua volta, lá se vai de improviso, Ó QUE GENIAL!, Ó QUE GENIAL! Ô, INTERVENÇÃO! Parece até que tinha que se fazer alguma coisa obrigatoriamente, ai sai um monte de selvagens desenfreados pendurando tudo, não parece tão genial assim.
    Na real, tudo caiu fisicamente, este não é o problema, o problema é não discutir o interesse, é levar na paixão por autoria.
    No fim das contas acho que não valeu de nada o evento, pois nem discutido não foi. Descrevo como uma aula com o “professor sociedade”. Professor impiedoso, a sociedade se revela muito cruel e devastadora, quando nos a enfrentamos de fato.
    Por enquanto, a ação só deu um arranhãozinho na lataria do aparelho sociedade, ela nem ligou…
    Muito perspicaz o nome deste post, a ação foi meio “Caso do Adolfo, o gordo”
    Para esta ação só me vem uma pergunta, espero estar errado sobre a resposta. A matéria prima desta escultura social é o próprio corpo de integrantes da cabana ou é a sociedade em torno?

    Um cu pra essa bosta de ação…

    BOCÂINA


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